29.4.08

A impaciência me domina, continuo querendo o que não posso ter, sinto-me estranho; não posso abandonar tudo e seguir com os desejos d'alma, sou matéria bruta e devo aceitar o fardo de querer o que não posso tocar. Ficar parado, aguardando, não necessariamente é ruim, desde que o mundo ao meu redor se movimente e eu, diante do inevitável, altere meus pontos de vista.

22.4.08

Aonde quer que vá,
em qualquer caminho,
estarei sozinho.

Sem desdém, nem vintém,
cada um tem o que merece:
a vida nasce todos os dias.

14.4.08

Escolhido um tema, por meio das excitações psíquicas e fisiológicas sabidas, preparar e esperar a chegada do estado de poesia. Se este chega (quantas vezes nunca chegou...), escrever sem coação de espécie alguma tudo o que me chega até a mão - a "sinceridade" do indivíduo. E só em seguida, na calma, o trabalho penoso e lento da arte - a "sinceridade" da obra-de-arte, coletiva e funcional, mil vezes mais importante que o indivíduo.

Mário de Andrade, "O Movimento Modernista", 1942

10.4.08

Ele disse, eu fiquei calado. Merece aplausos fervorosos. Conseguiu arrancar-me um sorriso no momento em que mais temia o choro desprevinido. Surpreendido, deixei-me expirar bons ventos. Creio que sua força, inabominável, me lançará noutros oceanos. Eu, barco à vela, sigo desgovernado; sem leme ou âncora, prossigo como as aves aos ventos e os peixes às correntezas. Incertezas serão validadas por minhas proezas limitadas.

1.4.08

pequenos detalhes

- Não vai me mostrar?
- Tá bom. Eu mostro. Mas rapidinho.

Ela se vira devagar, e, enquanto a observo, vejo o desenho da calcinha fininha marcando a calça.

- Cadê?
- Calma, safadinho, não vai me ajudar?

Piranha. Sempre me provocando. Olho calado ela soltar o laço da calcinha. Branquinha, novinha.

- Senta no meu colo, vem.
- Você me ama?
- Amo.
- Que bom, eu também. É por isso que a gente se dá bem, a gente convive bem.

Só assim ela me convencia de que valia mesmo alguns minutos de conversa.