9.2.07

Coisa boa


Não há certeza quanto ao significado da palavra “Maracatu”. Alguns pesquisadores acreditam que esta palavra é de origem indígena, com o seguinte significado: Maracá = instrumento musical / Catu = bom, bonito. Já outra corrente de pesquisadores acredita que o nome Maracatu deriva da dança dos bondes de Luanda. Há ainda pesquisadores que atribuem à palavra o significado de bagunça.

De origem africana, mas com a influência de elementos indígenas e portugueses, o maracatu tinha no passado uma característica altamente religiosa, pois celebrava as antigas festas coloniais de Coroação dos Reis Negros - eleitos pelos escravos com a função simbólica de líder. Hoje, porém, o ritual está mais voltado para o divertimento carnavalesco. Toda Nação de Candomblé e toda Nação de Maracatu é regida por um Santo (Orixá).

A boneca usada nos cortejos chama-se Calunga, ela encarna a divindade dos orixás, recebendo em sua cabeça os axés e a veneração do grupo. A música vocal denomina-se toada e inclui versos com procedência africana. Seu início e fim são determinados pelo som de um apito. O tirador de loas é o cantador das toadas, a quem os integrantes respondem ou repetem comandos. O instrumental, cuja execução se denomina toque, é constituído pelo gonguê, tarol, caixa de guerra e zabumbas.

8.2.07

Manual de boas maneiras


Taí uma revista que vai durar o tempo necessário pra chamar a atenção. Como um peido inesperado. No meio de tanta coisa ruim, tinha que haver algo pior. Humor sem reservas. Diarréia de palavras soltas mas com cabimento. Resta saber se haverá possíveis leitores. Aos curiosos, sugiro a leitura na solidão do toillete. Vale a pena ler tanta merda.

Segue abaixo trechos do primeiro editorial da revista M. Se você é jornalista (ou não é mas gosta dessa merda), algumas frases são (re)laxantes.

NÃO temos receio de jogar M... no ventilador.
NÃO vamos censurar opiniões ou informações que nos deixem mal com anunciantes, com autoridades ou com a mãe do leitor.
NÃO vamos deixar de publicar os palavrões que os entrevistados disserem ou que colaboradores usarem em seus textos.
NÃO pretendemos salvar o mundo, mas também não queremos que ele de pronto se foda.
NÃO tivemos vergonha de pedir colaborações sem remuneração.
NÃO cobramos preço de tabela para anunciantes neste primeiro número. Foram todos convidados. Ou desafiados a publicar anúncio com a gente.
NÃO publicaremos a revista em janeiro e fevereiro, pois sabemos que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval. Mas como a internet não é brasileira, vamos atualizar o site constantemente nesse período. Quer dizer, a gente faz M... até sem papel.
NÃO temos Manual de Redação e Estilo rígido. Assim, NÃO temos padrão para dar créditos, estruturar entrevistas, grafar algumas palavras etc.
NÃO somos obrigados a seguir nada do que dissemos acima.

Para entrar no site, clique aqui.

7.2.07

Olhar estrangeiro



Manhã de terça-feira. Dessa vez, minha tarefa era encontrar um personagem que guardasse relíquias de carnavais passados. Descobri que a primeira porta-bandeira da Portela, de 87 anos, guarda em sua casa antigas bandeiras, fantasias e fotos. Liguei pra casa dela e fui surpreendido por uma senhora aparentemente lúcida:

- Meu filho, você não sabe de nada, hoje em dia ninguém sabe de nada. As pessoas ficam dizendo que a Mangueira é a maior campeã do Carnaval, que a Portela é de Madureira, mas essas pessoas não sabem de nada. Nada, me entendeu?

Estupefato, fiquei sem palavras para dizer. Embora tenha aprendido que a Portela é de Oswaldo Cruz e não de Madureira, não me arrisquei a contrariá-la. E ela não parava:

- A televisão só quer saber de mostrar a bunda da mulherada, só procuram os velhinhos da Velha Guarda quando a gente tem que se expor, abrir nossa vida, falar de um passado que nunca mais volta, meu filho. Se você quer mesmo saber o que eu tenho na minha casa, me procura no Sambódromo que a gente conversa!

Envergonhado (mas sem perder minha cara-de-pau), resolvi falar alguma coisa:

- Minha senhora, você tá certa, a imprensa não tem respeito por vocês, bambas do samba, mas você tem que entender que nosso interesse é registrar para sempre uma história tão linda como a sua.

Me dei mal. Ela não se conteve:

- Meu filho, com todo o respeito, mas você pode enterrar minha história junto comigo, porque é isso mesmo que vocês fazem quando a gente morre. Fala por um dia, dá uma nota na página de óbitos, faz um especial que passe em todos os Carnavais, e pronto. Você tá me entendendo?
Só pude concordar com suas observações a respeito do meu ofício. Somos mesmo uma corja de punguistas.

3.2.07

Diário de um aquário


O que define a natação não é a monotonia. É a solidão. Na natação, a solidão é a via de acesso a uma espécie de estado meditativo, no qual reside um dos grandes prazeres do esporte. A natação impõe, logo de cara, um bloqueio sensorial: enxerga-se apenas o fundo da piscina/lagoa/oceano ou o breu das águas escuras; escuta-se apenas o som da água agitada por braçadas e pernadas; o tato é privado da sensação de solidez e passa a lidar somente com a resistência da água; a seqüência coordenada de braçadas, pernadas, movimentos de cabeça, respirações e viradas é contínua e os movimentos repetitivos livram progressivamente a consciência de mais essa preocupação corporal, até que em algum momento, se o treino for constante e o cérebro der conta da atividade física e da percepção do mundo em piloto semi-automático, o nadador se vê a sós com seus pensamentos.

Daniel Galera, "No mar de Copacabana não tem leviatã", revista Piauí, nº 4